10/03/2023 - SÃO PAULO - Durante palestra promovida hoje (10/3) pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP) em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, especialistas declararam que a violência psicológica é o “primeiro passo” para a agressão física e que o sexo feminino ainda não consegue  
se identificar como vítima. 

“Não temos muito bem delimitados os tipos de violência e a mulher acha que só existe a agressão física. Mas fiquem atentas. Muitas vezes, o olho roxo não vem”, afirmou a delegada Daniela Attab del Nero, hoje encarregada da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de São Caetano do Sul. “Eu já era delegada, tinha independência e apoio da família, mas não conseguia sair de uma relação assim. Fui xingada, ameaçada e acabei com minha própria arma apontada para a cabeça. Mas tinha vergonha.”  

“A violência psicológica é o primeiro passo para a violência física. Só que a maioria das mulheres não identifica isso. Você é gorda, feia, fraca, socos na mesa... Tudo isso é violência e vai fazendo com que a autoestima caia”, completou Rosmary Corrêa, responsável pela criação da primeira DDM  
do país, em 1985. 

O evento faz parte das celebrações organizadas pelo TCESP para a conscientização sobre a importância do 8 de Março. A íntegra do evento está disponível no YouTube por meio do link https://bit.ly/3JxaBzs.

“É um período de reflexão porque é assustador o Brasil de hoje registrar, a cada seis horas, a morte de uma mulher”, disse o Presidente da Corte, Conselheiro Sidney Beraldo. “Uma sociedade democrática, liberal e que busca a igualdade não pode conviver com números tão terríveis.” 

Pesquisa divulgada esta semana pelo Monitor da Violência, ligado à USP e ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou que, em 2022, o país bateu recorde de feminicídios. Em relação ao ano anterior, houve um aumento de 5% nos casos de assassinatos de mulheres.  

Isso significa que, em média, uma brasileira foi morta a cada 6 horas nesse período — o maior número registrado desde 2015, quando entrou em vigor a legislação que atribuiu penas mais altas aos responsáveis por esse tipo de crime. 

Primeira conselheira no TCESP, Cristiana de Castro Moraes defendeu a necessidade de o assunto ser abordado também dentro das escolas.  

“Temos que incentivar os meninos a serem feministas. A tratarem as mulheres com respeito”, disse ela. “É sempre muito importante discutir esses assuntos até porque, durante a pandemia, houve um retrocesso.” 

Levantamento feito pelo Datafolha revelou que, em 2020, primeiro ano da crise sanitária provocada pelo Coronavírus, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos (cerca de 17 milhões de pessoas) declararam ter sofrido algum tipo de violência ou agressão. 

Para combater o problema, desde o ano passado, o TCESP conta com uma Ouvidoria da Mulher, dedicada exclusivamente a denúncias de violência de gênero. “Isso acontece também no ambiente de trabalho. Então temos esse canal para servidoras, estagiárias, colaboradoras e visitantes”, explicou Cibele Trivelato de Carvalho Ampudia, responsável pelo setor. 

No final do ano, a Corte ainda lançou uma cartilha de combate ao assédio e à discriminação. 

Também participaram do encontro Samy Wurman, Coordenador do Corpo de Auditores, e a Diretora Técnica de Saúde e Assistência Social do TCESP, Fernanda Borges Keid.  

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